quarta-feira, 31 de maio de 2017
O prazer das cordas
The pleasure and the strings
Não gosto de classificações, porque isso, parece-me, é uma limitação imposta por quem criou as definições de certas coisas (sim, sim, podem calar-se já e ir cagar à mata, eu sei que coisas há que precisam de classificações, e definições), mas se falarmos em BDSM, lá vêm um bando de beatas e velhos do Restelo, a querer emprateleirar tudo.
Shibari, por exemplo, li algures a definição de que era “é uma arte japonesa que significa amarrar ou ligar e que tem como objetivo encontrar prazer ao amarrar o seu parceiro ou parceira”.
É verdade, também, mas não só.
Onde fica a parte do “prazer daquele/a que é amarrado/a”?
Na verdade, brincar com cordas, tem de ser, só pode ser, um prazer partilhado, e parte (grande parte, digo eu) do prazer está no prazer... provocado ao outro.
Tenho, para mim, que o Shibari (e será que usamos o nome estrangeiro porque em português ficava foleiro – e longo – dizer “fazer malha sem agulhas”?) é uma arte de abraçar. Aquele aperto que inibe os movimentos, é um abraço de protecção, só que feito com cordas.
Aprendam a fazer, treinem na boneca insuflável que têm guardada no armário, treinem com amigas/os, mas treinem, não se metam a atar pessoas como se fossem morcelas para irem para o fumeiro, treinem descomprometidamente, vão treinando a concentração, procurem os pontos de prazer, os vossos e os do parceiro, aquele que amarra procura, o amarrado ajuda na busca.
Mas tenham atenção às cordas que escolhem, não sejam mitras, e preocupem-se, sim? Corda de algodão é a mais recomendada, não assa, não queima, não corta, e não pica.
E deixem a sovinice em casa, na altura da compra, comprem, no mínimo, 10 metros, e podem ter diversas cordas com 10 metros cada, com grossuras diferentes (mínimo 8mm).
Se quiserem fazer suspensão (façam um curso com quem sabe, não inventem), as cordas e os ganchos (para suspender o submisso, embora possam tentar fazê-lo com a sogra, numa visita demasiado prolongada, muahahahah) precisam de ser de boa qualidade (voltar a ler a parte do “deixar sovinice em casa”), não querem que o sub se estatele no chão, não é? A ficar com o nalguedo moído que o seja por melhores motivos, e não por uma queda provocado por uma Domme (ou Dom, pronto, shiuuu) inábil.
Dependendo por onde passa a corda, a pressão exercida, o nó que é feito, tudo vos pode levar a fazer descobertas sobre vocês, e sobre o parceiro. Surpreendam-se com… os orgasmos. E se os não provocam, e se os não têm, não estão a fazer bem, treinem mais.
O Shibari é uma forma de arte, onde o prazer visual se alia ao físico, e quem a pratica deve ter alguns cuidados, até porque a linha que separa o prazer do crime pode ser quase invisível, ou mesmo invisível se vista com olhos de um desconhecedor.
Escolham parceiros em quem confiem – muito – e se assim for, não vão precisar das míticas “safeword”, o bom senso deve prevalecer quer pela parte de quem Domina, quer da parte de quem serve.
É fundamental que tenham sempre presente que tudo tem de ser “são” (saudável), “seguro”, e “consensual”, se estes princípios não estiverem presentes, não estão num play de BDSM, estão a praticar um crime.
Vá, vão lá fazer renda de bilros na boneca que têm escondida no armário.
Texto da
Divirtam-se!
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